Lucy Mara Rocha de Souza, ou simplesmente Lucy da Batata, é o rosto por trás de uma das histórias mais inspiradoras do agronegócio feminino brasileiro. Natural de Pirapozinho, interior de São Paulo, ela cresceu com os pés na terra, em meio à roça dos pais e avós agricultores. Mesmo formada em enfermagem, foi no campo que encontrou sua verdadeira vocação — e onde plantou o seu legado com raiz e propósito.
Hoje, lidera com a família uma produção diversificada de batata doce e se tornou referência nacional ao criar a primeira cerveja do Brasil feita com batata doce, incluindo variedades coloridas e sem glúten.
“Quando vi que já produzíamos um tipo de batata diferente, pensei: por que não fazer algo além? E nasceu a cerveja, que hoje é um sucesso da casa”, conta.
Inovação no cultivo da batata doce: da lavoura à cerveja artesanal
A transformação de Lucy em empreendedora foi natural. Inicialmente, ela chegou para ajudar o pai na gestão financeira da fazenda, mas logo percebeu oportunidades de mercado inexploradas. Com um olhar apurado para nichos e tendências, decidiu investir em batatas doces de polpas coloridas — ainda pouco conhecidas no mercado — e viu nelas o potencial para criar algo único.
A ideia da cerveja surgiu como um desdobramento criativo e ousado: três tipos de batata doce, três cores diferentes e uma bebida que surpreende tanto pelo sabor quanto pela inovação.
“É sem glúten e feita com um ingrediente que a maioria das pessoas nem imagina que pode estar numa cerveja”, explica.
Além da cerveja, a propriedade trabalha com a comercialização para o mercado interno e externo. E mesmo as batatas que não atendem ao padrão comercial são aproveitadas: vão para alimentação animal ou para indústria, na produção de amido e farinha.
Essa visão de aproveitamento integral da produção é uma das marcas da sustentabilidade praticada por Lucy.
Gestão sustentável da batata doce: lições de quem cuida do solo e da família
Sustentabilidade é uma palavra-chave no dia a dia de Lucy da Batata. Ela acredita que o cuidado com o solo é a base de tudo.
“Sempre digo aos funcionários: não é o que está em cima, é o que está embaixo. Nosso solo é o que nos devolve tudo. Temos que cuidar dele com rotação de culturas, adubação verde e insumos biológicos”, ensina.
A utilização desses insumos é, para ela, o “pulo do gato”. Eles ajudam no controle de nematoides e pragas, ao mesmo tempo em que aumentam a produtividade e reduzem a dependência de defensivos químicos. Essa combinação de conhecimento prático, tecnologia e sensibilidade ao meio ambiente é o que diferencia a gestão de Lucy no campo.
Além disso, a organização da propriedade passa por planejamento e disciplina:
“Anote tudo. Nem sempre você vai fazer o que planejou no mesmo dia, mas não deixe de fazer no seguinte. E sempre que possível, comece o dia planejando de manhã. As coisas fluem melhor”.
Lucy também compartilha os desafios e aprendizados de trabalhar em família: a tomada de decisões é conjunta, e a construção da sucessão é feita com leveza. Suas duas filhas já demonstram interesse pelo campo, participando de maneira lúdica nas visitas à lavoura.
“Eu não forço nada. Mas a mais nova já pergunta sobre os bichinhos bons e ruins da lavoura, quantas caixas cabem num caminhão… Vai nascendo naturalmente”, conta.
Resumo das práticas de sustentabilidade aplicadas por Lucy da Batata
- Rotação de culturas para preservação do solo
- Adubação verde e calagem
- Uso de insumos biológicos para proteção das raízes
- Aproveitamento de batatas fora do padrão para ração ou indústria
- Planejamento diário e gestão compartilhada com a família
Protagonismo e propósito: Lucy inspira outras mulheres no agro
O caminho de Lucy da Batata não foi livre de desafios. Ela relembra momentos difíceis, como uma noite em que a pulverização e o plantio precisavam ser feitos, mas os funcionários queriam ir embora.
“Olhei pro meu pai e disse: a gente vai vencer. Um ajuda o outro. E vencemos aquele dia como vencemos tantos outros”, relata com emoção.
Hoje, ela se reconhece como uma líder no campo e no negócio, mesmo sem ter sonhado com isso no início. Se pudesse falar com a Lucy de antes, ela diria:
“Onde você está hoje? Você não imaginava, mas chegou. E foi um passo de cada vez, com muita entrega.”
Sua história é prova de que protagonismo feminino no agro se constrói com raiz, visão e coragem. E inspira outras mulheres que desejam trilhar seus próprios caminhos no campo.
Siga A Protagonista no Instagram e YouTube! Toda segunda-feira às 18h15 no Canal Rural e quarta-feira às 14h30 no Canal do Criador. Não perca!