PRODUTIVIDADE SUSTENTÁVEL

Produtora rural do RS investe em rotação de culturas para produzir mais e proteger o solo

Márcia Lis Wedi explica como a diversificação de culturas fortalece o solo e melhora a gestão agrícola

Produtora rural do RS investe em rotação de culturas para produzir mais e proteger o solo

A diversidade de culturas tem se tornado uma das grandes aliadas do agronegócio brasileiro, especialmente no Sul. Em Carazinho, no Rio Grande do Sul, a produtora Márcia Lis Wedi aposta na integração entre soja, trigo e canola como modelo de sustentabilidade, rentabilidade e proteção do solo. Em entrevista para A Protagonista, ela detalhou como tecnologia, gestão e coragem moldam o trabalho no campo, e a presença crescente das mulheres no agro.

Márcia nasceu e cresceu no ambiente rural. Descendente de agricultores desde os bisavós, ela assumiu a gestão da propriedade e hoje trabalha ao lado do filho, dando continuidade ao legado familiar. Formada em Direito e pós-graduada em temas ligados à sucessão e produção de grãos, ela uniu conhecimento técnico e sensibilidade para liderar a fazenda.

“É uma história de amor pelo agro”

Rotação de culturas como estratégia para rentabilidade e saúde do solo

A produtora explica que a soja sempre foi o carro-chefe da fazenda, mas o avanço tecnológico e o entendimento sobre manejo do solo trouxeram a necessidade de diversificar.

“A rotação melhora a estrutura do solo, reduz pragas e mantém a terra saudável. Não dá mais para deixar o solo descoberto”.

Segundo ela, a combinação entre soja, trigo e canola só se tornou viável com a evolução dos maquinários e dos defensivos, que permitiram melhores resultados de produtividade no inverno.

“Cada cultura tem suas peculiaridades, seu tempo, seus riscos. Mas é um sistema que traz retorno.”

Desafios do clima

Márcia reforça que o maior desafio atual não é o mercado, mas o clima. A estiagem severa dos últimos anos e, mais recentemente, os episódios de excesso de chuva, têm colocado pressão sobre os produtores.

“A gente planeja, investe, faz tudo certo… mas se não chove, não tem milagre. Ou perde pela seca, ou perde pelas enchentes. É um desafio enorme para o produtor gaúcho.”

O avanço da canola no Rio Grande do Sul

A cultura da canola vive um momento de expansão no estado, e Márcia confirma essa tendência. Segundo ela, a área plantada cresceu cerca de 40% este ano. Com custo menor que o trigo e preços mais atrativos, a produtora vê espaço para continuar ampliando a participação da cultura.

“A canola já chegou a valer 80% do preço da soja. Hoje, está acima. É uma oportunidade real.”

Sustentabilidade no centro da gestão

A rotação de culturas, o cuidado com o solo e a orientação técnica constante fazem parte do planejamento diário. “Sustentabilidade é chão fértil, é manejo correto, é olhar o longo prazo. A gente trabalha sempre com acompanhamento do agrônomo para garantir saúde do solo e boas práticas.”

O papel da tecnologia na tomada de decisão

Da previsão do tempo ao GPS das máquinas, tecnologia é aliada fundamental. Márcia explica que a meteorologia influencia decisões de aplicação de insumos, como ureia, e evita perdas.

“Se a previsão diz que não vai chover, não aplicamos. Se diz que há 80% de chance, aí sim. Tecnologia evita desperdício e aumenta eficiência.”

Ser mulher no campo: coragem, preparo e persistência

Márcia destaca que ocupar espaços historicamente masculinos ainda é desafiador. Ela relata situações em que sua autoridade foi questionada, principalmente em compras de peças ou negociações técnicas.

“Ainda perguntam se meu pai vai buscar a peça, como se eu não entendesse. Respeito no agro ainda está sendo construído.”

Mesmo assim, ela reforça a importância de as mulheres se posicionarem:

“Veste a botina, coloca o chapéu e vai. Não deixa para o marido, para o pai ou para o filho. Se tem amor pelo agro, vai com coragem.”

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