Agricultura Espacial

Plantar em Marte? Rebeca Gonçalvez mostra como a agricultura espacial pode transformar o futuro da Terra

Astrobióloga Rebeca Gonçalvez é pioneira mundial em agricultura espacial e defende o uso das técnicas desenvolvidas para plantar em Marte como solução para os desafios agrícolas na Terra.

Rebeca Gonçalvez
Primeira brasileira a publicar sobre agricultura espacial

Agricultura espacial: do espaço ao campo

Agricultura espacial é o tema que move a trajetória de Rebeca Gonçalvez, astrobióloga formada pela University of Bristol e mestre em astrobiologia. Apaixonada por ficção científica e fluente em oito idiomas, Rebeca é a única brasileira a publicar estudos sobre cultivo fora da Terra, sendo pioneira mundial na aplicação de policultura em solos simulados de Marte.

Seu trabalho não é apenas “fora deste mundo” — é profundamente conectado com a realidade do planeta Terra.

“Toda a tecnologia desenvolvida para cultivar em Marte pode ser usada para melhorar a agricultura aqui”, afirma Rebeca.

A agricultura espacial, campo em que atua, busca garantir segurança alimentar e sustentabilidade em missões espaciais. Mas os avanços tecnológicos dessa área têm impacto direto no campo brasileiro, principalmente em tempos de escassez de recursos e solos degradados.

Rebeca Gonçalvez
Pioneira mundial na aplicação de policultura fora da Terra

O que é agricultura espacial e por que ela importa para o Brasil?

A agricultura espacial é um ramo da astrobiologia que estuda como cultivar alimentos fora da Terra, seja em estações espaciais, na Lua ou em Marte. Essa ciência envolve simulações complexas com solos semelhantes ao regolito marciano (o “solo” de Marte, que é, na verdade, uma mistura de poeira e pedra moída) e condições extremas como microgravidade, escassez de água e energia limitada.

Rebeca publicou um estudo inédito utilizando policultura em solo marciano simulado, uma técnica milenar que planta espécies complementares juntas, como tomates, ervilhas e cenouras.

“Os tomates cultivados junto às outras espécies produziram o dobro de frutos em comparação aos que foram plantados sozinhos”, revela.

Mas o que isso tem a ver com o agronegócio brasileiro?

A resposta é direta: tecnologias desenvolvidas para ambientes extremos como Marte são ideais para resolver desafios da agricultura no Brasil, especialmente em áreas de solo pobre, clima instável e necessidade de maior produtividade com menos recursos.

Benefícios da agricultura espacial para o campo brasileiro:

  1. Recuperação de solos degradados: técnicas criadas para enriquecer regolito marciano podem ser aplicadas em áreas do Brasil com solo improdutivo.
  2. Eficiência no uso de recursos: sistemas desenvolvidos para economizar água e energia no espaço podem ajudar pequenos e grandes produtores a reduzirem custos.
  3. Cultivos mais nutritivos e resistentes: o desenvolvimento de sementes adaptadas para condições extremas pode criar variedades mais resistentes às mudanças climáticas.
  4. Sustentabilidade e autossuficiência: os sistemas agrícolas fechados e sustentáveis estudados para missões espaciais trazem soluções reais para práticas agroecológicas aqui na Terra.
Rebeca Gonçalvez
Fala oito línguas e compartilha ciência para inspirar jovens, especialmente meninas

Plantar em Marte pode ajudar a salvar a Terra?

Sim — e não é apenas uma ideia de ficção científica.

Com mais de 40% dos solos férteis do planeta já degradados, segundo a própria Rebeca, as soluções para reverter esse quadro podem vir do céu — ou melhor, do espaço.

“A sustentabilidade é um foco central da agricultura espacial, e isso pode transformar a forma como produzimos alimentos aqui”, explica.

Além disso, o cultivo de plantas em ambientes controlados proporciona alimentos mais frescos, com mais nutrientes e antioxidantes — essenciais não só para astronautas, mas também para populações que vivem em locais de difícil acesso ou com pouca infraestrutura.

A agricultura espacial também traz benefícios emocionais e sociais. Estudos mostram que o cultivo de plantas melhora a saúde mental dos astronautas e, por analogia, pode ser aplicado em comunidades urbanas e rurais com impacto positivo semelhante.

Policultura: uma técnica antiga para o futuro da agricultura espacial (e terrestre)

Um dos grandes trunfos de Rebeca Gonçalvez é a valorização de práticas ancestrais com inovação. A policultura, técnica usada por civilizações antigas como os maias, retorna com força no contexto da agricultura espacial.

Ao plantar espécies diferentes no mesmo espaço — como tomate, ervilha e cenoura — Rebeca conseguiu duplicar a produção de tomates em seu experimento com simulador de solo marciano desenvolvido pela NASA. Essa técnica, além de aumentar a produtividade, ajuda no equilíbrio nutricional do solo e reduz a necessidade de fertilizantes artificiais.

No Brasil, o conceito já encontra ecos na integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), prática que também busca sinergias entre culturas e sustentabilidade. A convergência entre o antigo e o novo, o passado indígena e o futuro interplanetário, abre novas portas para o desenvolvimento agrícola com base na ciência e na inovação.

“O impossível é só o começo”, diz Rebeca, que compartilha sua paixão por ciência com o público em palestras e nas redes sociais, especialmente para inspirar meninas a entrarem no mundo da ciência e da inovação agrícola.

Ela representa o tipo de protagonista que planta o futuro em todos os sentidos — com os pés no solo (seja ele marciano ou brasileiro) e os olhos voltados para o infinito.

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