Intercâmbio

Da Serra ao Mundo: como uma jovem do cooperativismo levou o agro brasileiro à França

Elaine Araújo, engenheira de produção e cooperativista, conta como uma bolsa de estudos internacional transformou sua visão sobre o agronegócio e a sustentabilidade.

Elaine Araujo
Elaine nunca tinha saído do Brasil antes de ganhar a bolsa internacional para estudar na França.

Direto de Teresópolis para a França, a jovem Elaine Araújo viveu uma experiência internacional que mudou sua forma de ver o mundo e o agronegócio. Vencedora da bolsa solidária promovida pelo programa A Protagonista em parceria com a Audencia Business School e a MWM Motores, Elaine retornou ao Brasil com novos aprendizados, conexões e propósitos.

A trajetória de Elaine Araújo: raízes no cooperativismo e força da transformação

Nascida no Rio de Janeiro, Elaine fincou raízes em Teresópolis, na região serrana do estado, onde construiu sua trajetória no cooperativismo. Formada em Engenharia de Produção pela Universidade Federal Fluminense, ela também possui especialização em Gestão de Cooperativas. Sua entrada no agro aconteceu em 2011, após as enchentes que devastaram a cidade. Diante da tragédia, Elaine mobilizou a comunidade para fundar uma cooperativa de agricultura familiar, com foco em reconstrução, sustentabilidade e inclusão produtiva.

Com escuta ativa, empatia e propósito, ela se destacou como uma liderança jovem e engajada no cooperativismo. Foi essa atuação que a levou a conquistar, em 2023, a bolsa de estudos internacional oferecida por A Protagonista, que a levou até Nantes, na França, para o Master in Food and Agribusiness Management, na Audencia Business School.

“A primeira reação foi de choque. Eu queria muito, mas não esperava. Dois meses pra mudar a vida inteira, empacotar tudo, ir pra outro país e ainda com uma língua que eu não falava. Mas fui com medo mesmo”, contou Elaine.

Elaine Araujo
Elaine viveu seu intercâmbio sem falar francês — e aprendeu a se comunicar com empatia e escuta ativa.

O cooperativismo como ponte entre culturas

Durante sua imersão na França, Elaine percebeu o quanto o cooperativismo ainda é pouco compreendido fora do Brasil — muitas vezes confundido com ONGs. Aproveitou o espaço para mostrar que o modelo é, na verdade, uma via de equilíbrio entre o social e o econômico.

“Fiquei muito orgulhosa quando uma colega me disse que, por tudo que eu falei, ela queria tentar um estágio numa cooperativa. Isso mostra o poder da nossa narrativa”, comentou.

Além disso, ela destacou como o intercâmbio reforçou a importância da comunicação no agro. A convivência com alunos de diversas nacionalidades mostrou que barreiras linguísticas e culturais exigem mais escuta, empatia e clareza.

“A gente acha que se comunica bem, mas quando a língua em comum não é a mesma, você precisa aprender a se colocar no lugar do outro. Isso me transformou”, refletiu.

Elaine Araujo
Elaine é engenheira de produção e apaixonada por transformar vidas por meio do cooperativismo.

O agro brasileiro e os desafios da comunicação e sustentabilidade

A experiência internacional despertou em Elaine uma percepção crítica sobre como o Brasil comunica — ou não comunica — o que faz no campo. Segundo ela, muitas boas práticas não chegam nem ao público interno, quanto mais aos consumidores internacionais.

“O que a gente faz no Brasil, com tantas tecnologias, leis ambientais rígidas e preservação, ainda não chega lá fora. Precisamos mostrar mais o que já fazemos bem”, afirmou.

Ela também ficou impressionada com o rigor europeu na questão ambiental. Desde a separação do lixo até a recusa de produtos vindos de longe por conta da pegada de carbono, Elaine viu de perto uma geração muito conectada à causa ambiental — e acredita que o Brasil tem muito a mostrar nesse aspecto.

5 aprendizados que Elaine Araújo trouxe da experiência na França para o agro brasileiro:

  1. Empatia e escuta são essenciais para liderar e inovar.
  2. Comunicação estratégica no agro é uma ferramenta poderosa.
  3. O cooperativismo precisa ser valorizado e explicado internacionalmente.
  4. O Brasil precisa contar melhor sua história e suas boas práticas.
  5. Jovens líderes têm papel fundamental na transformação do setor.
Elaine Araujo
Elaine fundou uma cooperativa após as enchentes de 2011 que devastaram Teresópolis.

Liderança jovem no cooperativismo: um caminho para o futuro

Além da experiência acadêmica, Elaine atua como coordenadora do Comitê de Jovens do Sistema OCB/RJ (COOP) e integra a coordenação nacional do movimento Geração C. Para ela, investir nos jovens é uma questão estratégica para o agro brasileiro.

“O jovem traz novas visões de mundo, é preciso dar espaço para isso nas cooperativas e nas propriedades. O futuro consumidor será dessa geração e precisamos nos adaptar”, defendeu.

Ela também destacou que muitos jovens deixam o campo por conflitos de comunicação e falta de espaço nas sucessões familiares.

“É preciso criar pontes entre gerações, conviver e aprender juntos para garantir a continuidade do agro brasileiro com inovação e propósito.”

Ao fim da entrevista, Elaine reforçou que a experiência internacional mudou sua forma de ver o mundo — e também de se ver dentro dele.

“Passei a enxergar o valor da minha família, a importância de ter pra onde voltar. E percebi que não é que o outro é grosso, às vezes ele só não sabe se expressar. Desenvolver empatia foi o maior presente dessa jornada”, concluiu.

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