Pecuária

Bovinos mais calmos garantem até 23% mais prenhez: bem-estar animal transforma produtividade no campo

A zootecnista e médica veterinária Paola Rueda explica como o bem-estar animal e o temperamento dos bovinos impactam diretamente na taxa de prenhez.

Paola Rueda
Arquivo Pessoal

Bovinos mais calmos garantem até 23% mais prenhez. Esse é o ponto central dos estudos da zootecnista e médica veterinária Paola Rueda, uma das maiores referências no Brasil em comportamento e bem-estar animal. Com raízes no campo desde a infância, Paola tem se dedicado a transformar o manejo bovino em um processo mais ético, produtivo e sustentável — com foco total no bem-estar animal.

Brasiliense de nascimento, mas criada entre currais e pastagens, Paola carrega no currículo formações pela UFMS, UniSalesiano e UNESP Jaboticabal. Sua trajetória é marcada por resiliência, amor aos animais e uma visão científica que valoriza tanto a produtividade quanto a ética na pecuária.

“Crescer não é apenas resistir, é transformar desafios em força e aprendizado”, compartilha Paola, mãe solo e apaixonada pela natureza.

Seus estudos demonstram que bovinos mais calmos apresentam uma taxa de prenhez até 23% maior do que os animais reativos. Isso se deve à relação direta entre os hormônios do estresse e os hormônios da reprodução.

Paola Rueda
Arquivo Pessoal

O impacto do temperamento bovino na taxa de prenhez

O bem-estar animal está diretamente relacionado à taxa de prenhez dos bovinos. Segundo os estudos conduzidos por Paola, o estresse gerado por manejos agressivos ou pela alta reatividade dos animais pode comprometer consideravelmente os resultados reprodutivos.

Animais reativos, que demonstram mais agitação durante o manejo, apresentam níveis mais elevados de cortisol, o hormônio do estresse, que interfere na liberação de hormônios reprodutivos. Em protocolos como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), o estresse acumulado durante as várias idas ao curral pode impactar negativamente a eficácia da técnica.

Entre os indicadores utilizados por Paola para medir o temperamento dos bovinos estão o score de tronco e a velocidade de fuga:

  • Score de tronco: observa-se o comportamento do animal dentro do tronco de contenção — movimentos de cabeça, cauda e agitação geral.
  • Velocidade de fuga: avalia-se a rapidez com que o animal sai do tronco. Quanto mais veloz, mais reativo e, consequentemente, mais estressado ele é.

Esses dados ajudam a prever o sucesso reprodutivo e a necessidade de estratégias de manejo individualizadas.

“O bem-estar animal precisa ser visto como investimento, não como custo. A diferença entre uma boa taxa de gestação e uma frustrante pode estar em um simples grito no curral”, afirma Paola.

paola rueda
Jaqueline Silva e Paola Rueda durante gravação do programa A Protagonista do Canal Rural

Estratégias para melhorar o bem-estar animal e aumentar a prenhez

Paola defende que o sucesso reprodutivo é multifatorial, mas o bem-estar animal é peça-chave. Algumas estratégias que podem ser adotadas nas propriedades para garantir uma melhor taxa de prenhez incluem:

1. Condicionamento operante positivo:
Treinamento baseado em recompensa, como oferecer pequenas quantidades de milho ou melado ao final do manejo, criando uma associação positiva com o curral.

2. Habituação:
Exposição frequente dos bovinos ao ambiente do curral sem estímulos negativos, para que eles se acostumem ao local e o enxerguem como seguro.

3. Treinamento de colaboradores:
Os profissionais envolvidos no manejo precisam ser bem capacitados para evitar condutas agressivas, ainda que sutis, como gritos ou aceleração do gado.

4. Preparação adequada da IATF:
Desde o descongelamento correto do sêmen até o tempo de contenção do animal, tudo deve ser executado com precisão para garantir o sucesso da inseminação.

5. Monitoramento do escore corporal:
Vacas com bom escore corporal respondem melhor à reprodução. Avaliações regulares ajudam a evitar falhas no processo.

Em uma pesquisa com mais de mil vacas da raça Nelore, Paola observou que o retiro com manejo inadequado teve uma taxa de gestação 12% menor em comparação ao que adotava boas práticas de bem-estar animal.

Além disso, ela destaca que o comportamento dos animais pode ser influenciado ao longo do tempo por meio de seleção genética. Existem propriedades que há décadas selecionam bovinos com temperamento mais dócil, garantindo animais mais calmos e produtivos.

Um agro mais ético e produtivo é possível

O trabalho de Paola Rueda demonstra como ciência, sensibilidade e estratégia podem caminhar juntas para transformar a realidade do campo. O bem-estar animal, quando aliado à genética e ao manejo de qualidade, torna-se um dos pilares da produtividade pecuária moderna.

Para os produtores que desejam melhorar a taxa de prenhez em seus rebanhos e promover um agro mais justo, as dicas da especialista são valiosas: planejar bem a estação de monta, treinar equipes, entender o comportamento dos animais e aplicar técnicas de aprendizagem e habituação.

O futuro da pecuária passa por entender que animais mais calmos, manejados com respeito, geram mais resultado. E, como Paola mostra em sua trajetória, é possível unir produtividade com ética, ciência com paixão e técnica com empatia.

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