SUSTENTABILIDADE COMO DIFERENCIAL

União Europeia impõe novas regras que desafiam exportações brasileiras

Consultora Talita Martins destaca a adaptação necessária para o agro cumprir as exigências de sustentabilidade.

União Europeia impõe novas regras que desafiam exportações brasileiras

O mercado europeu está implementando novas regras que exigem que produtos exportados para a União Europeia (UE) sejam livres de desmatamento, com o objetivo de combater as mudanças climáticas e a degradação ambiental. Para o Brasil, principal fornecedor de commodities como soja, café e carne bovina, essa medida trará grandes desafios, especialmente na adaptação dos pequenos e grandes produtores a essas exigências.

A UE estabelece que até dezembro de 2024, todos os produtos agrícolas exportados para o bloco deverão comprovar que não estão relacionados a áreas desmatadas após 2020. Para isso, será necessário o uso de tecnologias avançadas, como geolocalização, satélites e certificações de sustentabilidade. O impacto nas exportações brasileiras, que são altamente dependentes desse mercado, pode ser significativo. 

Talita Martins destaca a importância da adaptação

Para entender mais sobre como essas novas regras afetam o Brasil, conversamos com Talita Martins Oliveira, consultora especializada em sustentabilidade no agronegócio. Com vasta experiência em projetos ambientais, incluindo sua atuação na recuperação dos desastres de Brumadinho e Mariana, Talita acredita que, apesar dos desafios, essas mudanças também oferecem oportunidades para os produtores que já investem em práticas sustentáveis.

“O prazo para adequação é curto, e muitos produtores, principalmente os menores, estão apreensivos. Contudo, os que já seguem práticas de sustentabilidade podem encarar isso como uma oportunidade de se destacar no mercado”, afirma. “A exigência de não desmatamento para exportar para a UE impõe uma data de corte: dezembro de 2020. Isso significa que todas as áreas desmatadas após essa data não poderão ser utilizadas para produção de commodities destinadas à Europa, complementa.”

Como isso afetará o agronegócio?

O impacto dessa regulamentação será sentido em toda a cadeia produtiva do agronegócio brasileiro. A implementação de sistemas de rastreabilidade e monitoramento das áreas de produção requer investimentos em tecnologias que, muitas vezes, são onerosos para os pequenos produtores. 

A especialista reforça que “para se manter no mercado, será necessário um esforço financeiro e operacional por parte dos produtores, não apenas em tecnologia, mas em adaptação às certificações exigidas pela UE. Além disso, a transparência será fundamental para fornecer evidências claras e em tempo real de que seus produtos não têm ligação com o desmatamento.”

No entanto, a consultora acredita que a adaptação às normas pode trazer ganhos a longo prazo. “Aqueles que já implementam boas práticas de manejo sustentável podem ver esse cenário como uma oportunidade de agregar valor aos seus produtos. O investimento inicial pode ser recuperado com a diferenciação no mercado.”

Tecnologias de monitoramento e rastreabilidade

As tecnologias são fundamentais para comprovar que os produtos exportados para a UE estão em conformidade com as novas regulamentações. O uso de satélites, geolocalização e inteligência artificial são algumas das soluções disponíveis para garantir a rastreabilidade completa dos produtos, desde a fazenda até o destino final.

“Uma das principais ferramentas que o produtor pode utilizar é o monitoramento via satélite, que permite comprovar que suas áreas de produção estão livres de desmatamento”, explica. “Além disso, as certificações ambientais e de sustentabilidade, que já são adotadas por muitas empresas, continuarão a ser uma importante forma de atestar as práticas corretas”, observa.

Ela também menciona que o Brasil já possui um bom histórico de adoção de tecnologias no campo, o que pode facilitar o processo de adaptação. “Muitas propriedades rurais já utilizam tecnologias avançadas para melhorar a eficiência da produção. Agora, é uma questão de integrar essas tecnologias com as exigências internacionais de sustentabilidade.”

A importância da educação e capacitação

Outro ponto destacado por Talita é a necessidade de educar e capacitar os produtores rurais para se adequarem a essas novas demandas. Programas de engajamento e treinamento podem ser fundamentais para garantir que os pequenos produtores tenham acesso às ferramentas e ao conhecimento necessário para se manterem competitivos no mercado.

“Capacitar os produtores é essencial. Precisamos de programas que levem informação até o campo, mostrando como adotar essas práticas de sustentabilidade de forma eficiente e acessível”, enfatiza. Ela acredita que com a educação e o acesso à informação, o agronegócio brasileiro pode se adaptar às novas regras e continuar como um dos principais exportadores para a Europa.

Para Talita, o papel das grandes empresas e do governo é fundamental nesse processo. “Precisamos de parcerias entre o setor público e privado, além da participação de ONGs, para garantir que as mudanças sejam implementadas de forma transparente e eficiente. A cooperação entre todos os atores envolvidos será essencial para o sucesso dessa transição.”

O futuro das exportações brasileiras para a União Europeia

Embora o cenário seja desafiador, a expert em ESG vê um futuro promissor para o agronegócio brasileiro, especialmente para aqueles que souberem se adaptar rapidamente às novas exigências da União Europeia. “Com o uso correto da tecnologia e a adoção de práticas sustentáveis, o Brasil pode continuar a ser um dos principais fornecedores de alimentos para o mercado europeu. É um caminho desafiador, mas acredito que, com inovação e educação, o agronegócio brasileiro pode não só superar esse obstáculo, mas se destacar ainda mais no cenário internacional”, conclui Talita.