
Integrar teoria e prática ainda é um dos principais desafios do agronegócio brasileiro, mas também uma das maiores oportunidades para quem busca produtividade, sustentabilidade e competitividade. É o que afirma Christiane Leles, professora e pesquisadora do Pensa, Centro de Conhecimento em Agronegócio da FIA Business School, em entrevista para A Protagonista.
Goiana de Jataí, Christiane cresceu em meio ao ambiente rural e fez da educação o seu propósito. Formada em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás, com doutorado pela USP, ela dedica a carreira a aproximar ciência, gestão e pessoas.
“O agro faz parte da minha vida desde sempre. Eu queria unir o campo com a gestão, e encontrei isso na pesquisa”
Unir teoria e prática: da sala de aula ao campo
Na FIA, Christiane atua diretamente na formação de produtores e profissionais do setor. Segundo ela, o grande objetivo é transformar conhecimento em ação.
“Nos nossos cursos, incentivamos alunos a colocar a mão na massa. Eles desenvolvem projetos reais, identificam problemas e apresentam soluções aplicáveis. O impacto é prático, tanto para eles quanto para as comunidades onde atuam.”
Desigualdade no acesso à informação ainda é obstáculo
Para a pesquisadora, o maior desafio do Brasil rural hoje é o conhecimento. E ele começa pela falta de acesso à assistência técnica.
“Temos cerca de 5 milhões de propriedades rurais, mas grande parte não recebeu nenhum tipo de orientação, segundo o Censo 2017. Sem informação, o produtor não consegue avançar”
Cristiane afirma que reduzir essa lacuna é fundamental para ampliar produtividade e diminuir desigualdades entre propriedades.
“Quando o produtor entende o que precisa ser feito, o resultado aparece. Capacitação muda o negócio.”
Um agro mais humano e centrado nas pessoas
Ela também defende que o setor avance para um agro mais humano, conceito que coloca as pessoas no centro das decisões.
“Sustentabilidade não é só ambiental. O social importa. Bem-estar dos funcionários, boas práticas, impacto na comunidade e transparência com o consumidor fazem parte do agro moderno.”
ESG no campo: protagonismo das mulheres
Durante a entrevista, Christiane apresentou o livro recém-lançado pela Academia de Liderança para Mulheres do Agro (Alma), da FIA, em parceria com a Corteva e a Abag. A obra reúne relatos e metodologias para implantação de relatórios ESG em propriedades rurais.
Segundo ela, muitas produtoras descobriram no programa que já adotavam práticas ESG, mas não sabiam como estruturá-las ou comunicá-las.
“Faltava organização. Quando elas mostram o que fazem, conseguem até prêmio no preço do produto.”
Christiane conta que, em muitos casos, são as mulheres que lideram a implantação de ESG nas fazendas.
“É comum que elas abracem a causa e passem a ser responsáveis pela área. Isso aumenta o protagonismo feminino e fortalece a gestão da propriedade.”
Mulheres no agro buscam mais capacitação
A pesquisadora afirma que a presença feminina na gestão rural cresce de forma consistente.
“Ainda são 19% das propriedades, segundo o último Censo, mas esse número deve aumentar. As mulheres querem aprender, buscam conhecimento, participam de cursos, congressos e redes de apoio. Depois que elas começam, não querem parar.”
Conselho para quem quer começar: informação e coragem
Christiane encerra a entrevista com um conselho direto às mulheres do campo:
“Procurem conhecimento. Usem a internet, participem das reuniões, busquem formação, criem rede. E não tenham medo dos desafios. É com eles que a gente cresce.”