Microbiologia do solo: o segredo invisível que impulsiona a produtividade no agro
A microbiologia do solo é um dos temas mais estratégicos e ainda pouco compreendidos no agronegócio brasileiro. Quem defende essa bandeira com paixão e conhecimento técnico é a bióloga Vânia Carla Pankievicz, empreendedora e pesquisadora que transformou anos de ciência acadêmica em soluções práticas para o campo. Nascida em Curitiba, casada e mãe de dois filhos, Vânia é cofundadora da Gol Solos, empresa especializada em agricultura regenerativa e biotecnologia aplicada ao solo.
Ela estuda há 17 anos a relação entre microrganismos e plantas e acredita que olhar para a microbiologia do solo é essencial para um agro mais produtivo, sustentável e resiliente — especialmente diante de eventos climáticos extremos, como as queimadas.
“O solo é um organismo vivo. Ele precisa ser cuidado, cultivado. Não é apenas um substrato para plantar”, destaca Vânia.
Da universidade ao campo: a jornada empreendedora da cientista
Com doutorado e dois pós-doutorados, Vânia tinha uma carreira acadêmica consolidada e o desejo de seguir como professora universitária. No entanto, sua trajetória mudou ao perceber que o conhecimento gerado na pesquisa precisava chegar ao produtor rural. Assim nasceu a ideia de empreender.
Junto a uma sócia mulher e um sócio homem, ela fundou a GoSolos, empresa voltada à aplicação de práticas regenerativas com base na microbiologia do solo.
“O que fazíamos em laboratório precisava ir para o campo. Recebemos apoio dos nossos orientadores e decidimos seguir esse novo caminho”, conta.
Essa virada profissional representa não só um marco pessoal, mas também um exemplo do papel transformador da mulher na ciência e no agro.
“A profissionalização feminina é essencial para o setor. Nós trazemos o olhar científico, biológico, que a agricultura precisa incorporar cada vez mais”, afirma.
O impacto das queimadas na microbiologia do solo e o caminho da regeneração
Durante a entrevista, Vânia explicou como uma queimada pode afetar profundamente o solo — não apenas em sua estrutura física, mas naquilo que ele tem de mais valioso: os microrganismos benéficos.
Quando o fogo atinge a terra, mesmo que de forma rápida, ele altera o equilíbrio da microbiota. Algumas bactérias promotoras de crescimento, responsáveis por funções como a fixação biológica de nitrogênio e a produção de fito-hormônios, são especialmente sensíveis ao calor e acabam sendo eliminadas.
A boa notícia é que existe recuperação, especialmente quando a propriedade já adota práticas sustentáveis. Na Fazenda Tropical, onde Vânia acompanhou um caso recente, o impacto foi mitigado justamente porque o solo já vinha sendo trabalhado com técnicas regenerativas há décadas.
Práticas essenciais para regenerar o solo após uma queimada:
- Plantio direto: reduz a erosão e mantém a estrutura do solo.
- Plantas de cobertura: ajudam a construir uma microbiota rica ao redor das raízes.
- Rotação de culturas: quebra o ciclo de pragas e doenças e promove diversidade biológica.
- Aplicação de biológicos: insumos que introduzem microrganismos benéficos ao solo.
- Monitoramento constante: avaliação da “fotografia biológica” a cada safra.
Essas estratégias, segundo Vânia, são mais que soluções emergenciais: são investimentos de longo prazo.
“Olhar para os microrganismos do solo é como colocar a cereja do bolo na produtividade. É o detalhe que explica por que um talhão vai melhor do que outro, mesmo com o mesmo manejo”, explica a especialista.
Além da recuperação, essas práticas constroem uma agricultura mais resiliente, capaz de resistir aos impactos de eventos extremos e continuar produtiva.
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