Insetos

Formigas na lavoura: vilãs ou aliadas? Ana Eugênia revela o papel invisível desses insetos no agro

A bióloga Ana Eugênia, especialista em insetos, explica como as formigas impactam positiva e negativamente a produção agrícola brasileira.

Ana Eugênia
Arquivo Pessoal

Formigas na lavoura: vilãs ou aliadas?

Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, Ana Eugênia de Carvalho Campos encontrou na ciência seu caminho e no agro sua missão. Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), com mestrado e doutorado em Zoologia pela UNESP de Rio Claro, Ana é apaixonada por insetos, especialmente as formigas na lavoura, tema que estuda há anos com dedicação e entusiasmo.

Seu primeiro contato com o campo aconteceu ainda na graduação, ao estagiar analisando moscas em caprários. Desde então, ela mergulhou de cabeça no universo da pesquisa aplicada ao agronegócio. Hoje, trabalha no Instituto Biológico e alia conhecimento técnico à missão de transformar a maneira como vemos esses pequenos — e muitas vezes subestimados — seres.

“Estudo formigas há muito tempo e cada vez aprendo mais com elas”, contou Ana durante a entrevista para A Protagonista.

“É um inseto que vive em sociedade, tem um comportamento fascinante e um papel fundamental tanto como praga quanto como aliada.”

Jaqueline Silva e Ana Eugênia durante entrevista no programa A Protagonista

As formigas como pragas agrícolas

Dentro do universo das formigas na lavoura, existem espécies que são amplamente conhecidas pelos prejuízos que causam, como as saúvas e as quenquéns. Elas são chamadas de cortadeiras por sua capacidade de desfolhar plantas inteiras, comprometendo a produtividade agrícola.

“O prejuízo pode chegar a 100% se não houver controle, manejo e monitoramento adequados”, alerta a pesquisadora.

Além disso, Ana destaca que algumas espécies de formigas mantêm relações simbióticas com outros insetos sugadores, como pulgões e cochonilhas, protegendo-os em troca de alimento açucarado e, assim, contribuindo indiretamente para a disseminação de pragas.

Para reduzir o impacto negativo dessas formigas na lavoura, Ana recomenda algumas práticas fundamentais:

Dicas de manejo e prevenção contra formigas cortadeiras:

  • Monitoramento prévio da área antes do plantio.
  • Controle localizado de ninhos, especialmente de saúvas e quenquéns.
  • Instalação de barreiras físicas para impedir que as formigas subam nas plantas.
  • Uso equilibrado de defensivos agrícolas e preferência por soluções biológicas.
  • Manutenção de áreas naturais ou plantas nativas entre os cultivos.

Essas ações promovem um sistema agrícola mais equilibrado e sustentável, reduzindo a necessidade de intervenções químicas e preservando o ambiente.

O papel ecológico das formigas na lavoura e no planeta

Apesar de sua fama de vilãs, a maior parte das formigas na lavoura e em ecossistemas naturais atua como aliada do produtor e da natureza. Estima-se que existam cerca de 20 mil espécies de formigas no mundo, sendo aproximadamente 2.500 registradas no Brasil. Dentre elas, apenas uma fração ínfima é considerada praga.

No ambiente natural, as formigas são fundamentais para:

  • Aeração do solo, melhorando sua qualidade.
  • Incorporação de nutrientes ao substrato.
  • Controle natural de outras pragas.
  • Dispersão de sementes, especialmente em regiões como o semiárido brasileiro.
  • Manutenção do equilíbrio ecológico.

“Se tirássemos as formigas e os cupins da floresta amazônica, ela deixaria de existir”, enfatiza Ana.

O impacto positivo desses insetos é tão grande que eles também são usados como bioindicadores em estudos de impacto ambiental.

Com as mudanças climáticas em curso, as formigas na lavoura vêm demonstrando alterações comportamentais importantes. Algumas espécies desaparecem de áreas degradadas, enquanto outras — mais adaptáveis — proliferam. Monitorar essas mudanças ajuda pesquisadores a entender o grau de equilíbrio do agroecossistema.

Formigas como bioindicadoras: aliadas da sustentabilidade

O uso de formigas como bioindicadoras ambientais tem ganhado destaque. Elas ajudam a medir o grau de degradação ou recuperação de uma área, especialmente após impactos causados por mineração, agricultura intensiva ou urbanização.

Ambientes equilibrados mantêm uma diversidade estável de espécies de formigas. Já locais degradados perdem essa variedade, o que serve de alerta para pesquisadores e produtores. A partir dessas observações, é possível aplicar ações corretivas e promover um agro mais sustentável.

Por que usar formigas como bioindicadoras?

  • São abundantes e fáceis de coletar.
  • Têm papel-chave em diversos níveis do ecossistema.
  • Respondem rapidamente a mudanças no ambiente.
  • Permitem monitoramentos temporais de restauração ambiental.

Para Ana, o segredo do sucesso no campo está em entender essa lógica ecológica:

“Quanto mais equilibrado estiver o agroecossistema, melhor para o produtor, que vai usar menos insumos e colher mais benefícios do ambiente.”

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