As exportações de carne bovina seguem em ritmo acelerado e impactam diretamente o mercado interno. Roberta Paffaro, especialista em gestão de riscos no agronegócio, analisa os desafios e tendências desse cenário.
Exportações de carne bovina puxam mercado e elevam preços internos
O mercado de carne bovina está aquecido. As exportações de carne bovina bateram recordes nos primeiros meses do ano, impulsionando a cadeia produtiva, mas também trazendo desafios. Roberta Paffaro, jornalista com mestrado em gestão e economia do agronegócio e especialista em riscos no agro, explica que a alta demanda internacional é o principal fator que puxa essa valorização.
“Só em março, tivemos um aumento de 41% nas exportações de carne bovina comparado ao mesmo período do ano passado”, destaca Roberta. Os principais destinos da carne brasileira são China, Estados Unidos e Chile, mercados que seguem com apetite crescente.
Essa demanda externa está diretamente ligada à valorização do dólar, que favorece as exportações. No entanto, também pressiona o mercado interno.
“Quando exportamos, negociamos em dólar. Com a valorização do câmbio, os frigoríficos buscam equiparar os preços, e isso chega até o consumidor final”, explica.
Além disso, o mercado físico mostra escalas de abate mais apertadas, o que sinaliza menor disponibilidade de animais e mantém os preços da arroba em patamares elevados.
Fatores que impulsionam as exportações de carne bovina
O crescimento das exportações de carne bovina não é fruto do acaso. Uma série de fatores econômicos e conjunturais contribui para esse movimento. Roberta Paffaro destaca os principais:
- Alta demanda externa — Principalmente da China e dos Estados Unidos.
- Valorização do dólar — Torna a carne brasileira mais competitiva no mercado internacional.
- Oferta enxuta de animais — Com escalas de abate mais curtas e aumento do abate de fêmeas.
- Mercado global aquecido — Relatórios internacionais, como o do USDA, indicam aumento de 2% no consumo global de carne bovina.
- Menor produtividade futura — O abate de matrizes pode impactar o ciclo produtivo nos próximos meses.
Esse cenário cria um ciclo onde a menor oferta interna, somada à demanda internacional e à influência do câmbio, mantém os preços elevados, tanto para exportação quanto no mercado doméstico.
Gestão de riscos é fundamental para quem está na pecuária
Se por um lado as exportações de carne bovina trazem rentabilidade e oportunidades, por outro exigem cautela. Roberta Paffaro alerta para os riscos que produtores, cooperativas e indústrias precisam considerar:
- Câmbio instável — A desvalorização do real beneficia as exportações, mas encarece os custos de produção, já que muitos insumos, como vacinas e suplementação, são dolarizados.
- Aumento dos custos de produção — O mesmo dólar que remunera melhor na venda, pesa na compra dos insumos importados.
- Riscos operacionais e de mercado — A volatilidade dos preços pode gerar perdas se não houver uma gestão eficiente.
“O risco tem que ser identificado e bem controlado. É fundamental utilizar o mercado a favor, seja com ferramentas de proteção financeira, contratos futuros ou planejamento estratégico”, aconselha Roberta.
Ela ainda alerta que o ciclo pecuário atual exige atenção redobrada, principalmente após o aumento do abate de fêmeas, que pode gerar escassez de animais prontos para abate em curto e médio prazo.
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