Reutilização de cama e vazio sanitário: cuidados essenciais para a saúde das aves e a rentabilidade das granjas
A reutilização de cama e o vazio sanitário são práticas fundamentais para a biossegurança e a produtividade das granjas, como destaca a médica veterinária Marcela Triginelli, especialista em avicultura. Natural de Belo Horizonte e atualmente residente em Campinas, Marcela carrega em sua trajetória acadêmica e profissional uma paixão antiga pelo agro, iniciada no sítio do avô e solidificada por sua formação na Universidade Federal de Minas Gerais.
Com passagens importantes por Chapecó e um currículo que inclui mestrado, doutorado e atuação no setor comercial, ela compartilhou com A Protagonista orientações valiosas sobre práticas que impactam diretamente a saúde das aves, o desempenho zootécnico e a rentabilidade das propriedades.
“A reutilização de cama e o vazio sanitário são decisões técnicas que precisam ser tomadas com base em dados de desempenho, qualidade da cama e histórico sanitário do lote”, afirma Marcela.
Quando reutilizar a cama? Avaliação técnica é o ponto de partida
A reutilização de cama é uma alternativa viável em muitos casos, desde que feita com critério. A prática ocorre no intervalo entre lotes e exige avaliação cuidadosa da qualidade da cama e do desempenho do lote anterior.
Os principais fatores que determinam a reutilização de cama incluem:
- Umidade da cama (excesso favorece proliferação de microrganismos)
- Presença de cascão (torrões que dificultam o manejo)
- Altura da cama (acúmulo excessivo exige remoção)
- Produção de amônia (prejudicial ao trato respiratório das aves)
- Lesões em carcaças ou problemas como calos de pé
- Taxas de mortalidade e escore corporal das aves
Essas variáveis devem ser analisadas individualmente por um técnico capacitado.
“Se a cama está muito úmida, com alto nível de amônia ou se o lote anterior teve problemas sanitários, o ideal é retirar a cama completamente e não reutilizá-la”, explica a veterinária.
Vazio sanitário: impacto direto na biossegurança e produtividade
Diferente da reutilização de cama, o vazio sanitário consiste na remoção completa da cama, seguida de lavagem e desinfecção do galpão. Essa prática tem impacto direto na redução da pressão de infecção e na melhora do desempenho das aves.
Marcela destaca que, mesmo quando os sintomas não são visíveis, doenças como a de Gumboro podem causar imunossupressão e abrir portas para outras infecções. O excesso de amônia, além de reduzir o ganho de peso e piorar a conversão alimentar, pode até levar à cegueira nas aves — um prejuízo grave ao bem-estar animal e à produtividade.
Sobre a frequência do vazio sanitário, não existe uma regra fixa. Algumas empresas orientam a troca completa da cama a cada 3 a 6 lotes, mas isso depende de fatores como região, época do ano e histórico sanitário. O mais importante é a análise técnica individual.
“Já vimos casos em que dois galpões lado a lado, com o mesmo programa vacinal e nutrição, apresentaram desempenhos totalmente diferentes apenas pelo manejo distinto da cama”, destaca.
Práticas recomendadas para reutilização de cama com segurança
Quando as condições permitem a reutilização da cama, é fundamental adotar práticas eficazes para reduzir a carga microbiológica e garantir o conforto térmico das aves. Confira algumas estratégias indicadas por Marcela:
- Queima de penas e trituração da cama para deixá-la mais solta
- Leiramento plano: cobertura total da cama com lona, promovendo fermentação controlada
- Enleiramento: formação de montes cobertos no centro do galpão para elevação da temperatura
- Monitoramento da amônia e da umidade antes da reutilização
- Presença de técnico responsável para avaliar riscos e benefícios
Essas técnicas, embora demandem tempo e mão de obra, são essenciais para prolongar a vida útil da cama sem comprometer a biossegurança.
Rentabilidade e bem-estar animal caminham juntos
Com o crescimento da avicultura brasileira, cada vez mais produtores estão investindo em novas granjas e tecnologias. A reutilização de cama, se bem manejada, representa uma estratégia de redução de custos, menor impacto ambiental e otimização dos recursos — mas jamais pode ser feita sem o respaldo técnico.
“Não adianta economizar em um ponto e perder no desempenho final. A saúde das aves é o que garante a rentabilidade do negócio”, conclui Marcela Triginelli.
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